Clovis Silveira Júnior*
Todos certamente já ouviram a fábula do ovo e da
galinha, quem veio primeiro? Estamos vivendo há décadas o mesmo dilema com
relação ao SUS. Quem veio primeiro, o subfinanciamento ou o subgerenciamento do
sistema?Os detentores de poder dizem que o SUS não merece mais recursos porque é
ineficiente e em contrapartida os militantes da causa alegam que o SUS não faz
mais porque não tem dinheiro...
E assim, caminha a humanidade, entre discussões
intermináveis, apelos incontestáveis e derrotas insuportáveis.
Que pena, seria cômico se não fossem avassaladores os
efeitos desta postura.
A verdade é que este celeuma esconde algo muito mais
estratégico, mascara o cerne da questão ao simplificar a política de saúde
pública num binômio dinheiro x gestão. Sabemos que o enfrentamento é muito mais
complexo, multifatorial.
Pagamos, sim, o preço de optarmos por um sistema de
saúde ousado, abrangendo 170 milhões de pessoas, exercido num país e dimensões
continentais vivenciado por distintas e flagrantes realidades sócio culturais e
econômicas.
O pano de fundo, ou melhor, a encruzilhada que nos
encontramos, é a definição de qual modelo de saúde queremos e somos capazes de
manter . Esta discussão, sim, levará a resultados mais promissores, de visão de
futuro, de planejamento estratégico. Tema sério, árduo, mas urgente.
As cartas devem ser todas colocadas na mesa, temos
condições de manter a universalidade do SUS? Como proporcionar gestão mais
eficaz diante das adversidades e despreparo de grande gama de dirigentes e
gestores? E como ficaria a relação público-privada nesta questão? De onde viriam
os tão cobiçados recursos? Quem pagaria esta conta? Enfim, assunto pra mais de
metro..
Talvez um dos maiores equívocos do SUS foi uma avaliação
pouco abrangente de cenários, criado que foi no afã do resgate aos direitos de
cidadania no pós ditadura militar. Tentativa fundamental de acesso ao Estado
provedor, mas passional e ideológico, esqueceu de colocar na pauta de
planejamento indicadores e pactuações essenciais para sua própria
sobrevivência..Estávamos preparados para gerir sistema de saúde tão complexo
jamais visto em qualquer parte do mundo? Tínhamos recursos para esta empreitada?
Teríamos apoio da sociedade formadora de opinião?(aspecto este fundamental para
a credibilidade do sistema).
Agora a conta chegou e o face a face torna-se
inevitável. Deve ser aberto canal de diálogo com sociedade civil organizada,
apontar caminhos para gestão qualificada em todas as esferas de governo,
dimensionar o montante de recursos demandados para um SUS de qualidade, definir
fontes dos mesmos, e finalmente, traçar rumos para onde trilharemos de acordo
com a realidade econômica da Nação; SUS para todos ou para quem precisa? Fazer
pouco para muitos ou fazer melhor para quem realmente necessita?Fazer o
necessário para todos? Grandes dilemas..
Não devemos entender este debate como um jogar de toalha
das grandes causas, mas uma necessária reavaliação de propostas e papéis para a
viabilidade de um modelo que todos acreditamos ter potencial de justiça e
equidade.
Enquanto não chega este tão esperado encontro de titãs,
fica secundária a solução do enigma do ovo e da galinha, porque no caso do SUS
temos a certeza que independente de quem vem primeiro, gestão ou financiamento,
a única certeza que se tem é que quem fica por último é o povo, necessitado e
clamante por uma saúde pública de qualidade.
* Gestor de Unidade Básica de
Saúde em Diadema-SP, pós graduado em administração de serviços
hospitalares, MBA gestão de pessoas, pós graduando em gestão de serviços públicos de
Saúde
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