Carmen Mascarenhas
Aguardei um tempo antes de me manifestar, tentando
amadurecer minhas posições e ouvir outras manifestações e concluí que Não quero viver sem razão!
.
A 14ª Conferência Nacional de Saúde não teve início no dia
30 de dezembro de 2011. Para mim, Conselheira Municipal de Saúde de São Paulo,
representante do Movimento Popular de Saúde do Centro, a Conferência se iniciou
em 2008, quando fomos impedidos de tomar posse pelo gestor municipal de saúde que
tentou impugnar a eleição dos novos representantes do Conselho Municipal de
Saúde. O Ministério Público do Estado, na figura da querida Dra. Anna
Trotta, baseada na legislação,
considerou que não caberia ao Sr. Secretário Municipal de Saúde
impugnar um pleito, pois os recursos que chegam ao Conselho devem ser analisados
pelos movimentos, entidades e
demais representações que compõem
o CMS/SP.
No período de 2008
a 2010 sofremos várias investidas do Secretário de
Saúde, que nunca compareceu às reuniões do Conselho e através de portaria criou
a Assessoria de Gestão Participativa para representá-lo nas reuniões do
Conselho, coordenar suas reuniões, fazer a interlocução entre os conselhos de
base e o conselho municipal. Na verdade o objetivo era colocar os conselheiros
de base contra o conselho municipal, de
forma a legitimarem uma Conferência na qual os delegados foram os conselheiros gestores de saúde, excluindo
os movimentos e suas representações. O resultado desta Conferência foi a
aprovação da política de saúde vigente no município e as Organizações Sociais como
modelo de gestão.
Em 2010 o CMS/SP
declarou a nulidade da 15ª Conferência Municipal de Saúde por orientação do
Ministério Público Estadual, que em 2011 recomendou ao Sr. Secretário Municipal
de Saúde e ao Prefeito Gilberto Kassab que as próximas Conferências deveriam
ser realizadas respeitando a legislação.
A 14ª Conferência Nacional de Saúde teve sequencia, quando
foi chamada a Etapa Municipal em 2011. Mais uma vez o CMS/SP sofreu vários
golpes, passando a ter o acompanhamento
de representantes do Conselho Estadual, do Conselho Nacional e do Ministério da
Saúde, para conseguir enfim realizar sua Conferência.
Apesar de muita desorganização observada no desencontro de
informações, as propostas aprovadas para a Conferência Estadual comprovaram a
maturidade e empoderamento (tornar-se sujeito do processo) dos delegados. Isto
foi fortalecido durante a Conferência Estadual com a qualidade das propostas
aprovadas para a Nacional e reafirmadas na Carta de Serra Negra.
Neste período passamos por vários debates sobre Financiamento, Modelos de Gestão, Controle
Social no SUS, realizados pelo mandato
do Vereador Carlos Neder, pela Associação
Paulista de Saúde Pública e por último, no dia 25 de novembro, durante o 12º
Encontro da União dos Movimentos Populares de Saúde de São Paulo.
Nós delegados da cidade de São Paulo participamos da 14ª
Conferência Nacional de Saúde conscientes do SUS que queríamos e da certeza de
que nossa tarefa seria derrubar qualquer proposta que não estivesse em
consonância com o afirmado nas Caravanas
do SUS e na Carta de Serra Negra.
Não precisamos de muito trabalho pois os delegados do Brasil
inteiro presentes na Conferência se solidarizaram neste desejo, expresso na
Plenária Final da 14ª Conferência
Nacional de Saúde, na qualidade das propostas aprovadas.
Fomos imbatíveis, fomos uníssonos, fomos fieis aos nossos
princípios. O resultado deu a todos nós
a certeza que a luta valeu a pena.
Mas no final da Conferência, a 20 minutos de seu término,
quando orgulhosos nos preparávamos para cantar o hino, uma certa Carta da 14ª
Conferência foi apresentada à Plenária pelo Sr. Ministro Alexandre Padilha.
Naquele momento muitos de nós se sentiram traídos. Como num
pesadelo, voltou à minha mente tudo que havíamos sofrido em São Paulo para realizarmos
nossa Conferência ,assolados pela arbitrariedade do Gestor municipal de saúde.
Lembrei-me também do livro “A revolução
dos Bichos”, de George Orwell e tive a certeza de que ainda vivemos sob os que
insistem em dominar, sem consideração à ética e às leis.
Momentos antes, eu havia sido informada por companheiros de
luta, que a Carta da 14ª Conferência Nacional, seria lida pelo Ministro, mesmo
tendo sido reprovada em alguns pontos. Recebi uma cópia e indignada com o que li, procurei a sala onde algumas
pessoas discutiam os acertos finais. Minha indignação tornou-se maior, quando
constatei que não haveria acordo. Disse a eles que voltaria para a Plenária e convocaria os Movimentos a impedir
a leitura da Carta construída e assinada
por grupos não autorizados a responder por nós. Desorientada, voltei ao
auditório e chamei alguns companheiros para informar-lhes sobre o que estava
acontecendo. Era tarde demais, pois as vaias iniciaram logo que o Ministro
citou a tal carta.
Uni-me aos que vaiavam e gritavam.
Muitos companheiros solicitaram uma questão de ordem, porém
ninguém conseguiu defender ou criticar a carta.
Assistimos incrédulos à aprovação de um documento sedutor e bajulador,
que em suas entrelinhas aprovava o que durante cinco dias reprovamos.
Nós só nos prestamos para legitimar o que já foi decidido?
Se assim é para que gastar dinheiro público com Conferências
que não efetivam o que é deliberado?
Aproveito o momento para agradecer a Paulo Capel, pelo
artigo claro e direto por ele escrito, que lavou minha alma.
Agradeço também ao Conselheiro Nacional, Francisco Junior
pelo seu posicionamento diante do que aconteceu, expressando com clareza meus
sentimentos.
Obrigada ao vereador Carlos Neder por dar-nos a
possibilidade de trocarmos nossas aflições, mesmo nos posicionando de formas
diferentes. Prefiro acreditar que o objetivo comum é a LUTA PELO SUS.
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