Débora Mismetti
Folha de São Paulo
Médicos de Harvard lançaram na quarta-feira um novo desenho para servir como
modelo nutricional para todas as refeições, em mais uma tentativa de barrar o
avanço da obesidade, das doenças cardíacas e do diabetes.
O ícone proposto pela universidade, chamado de Healthy Eating Plate (prato
para alimentação saudável), se contrapõe ao modelo anunciado em junho pelo
governo americano para substituir a clássica pirâmide alimentar. O "prato feito"
do governo, o MyPlate, chancelado pela primeira-dama Michelle Obama, indica em
que proporção devem estar os nutrientes em cada refeição.
O desenho sugere, por exemplo, que a porção de vegetais seja o dobro da de
proteínas (carne ou soja). O prato também indica que, a cada refeição, devem ser
consumidas uma porção de frutas e uma de laticínios (um copo de leite ou um
pedaço de queijo, por exemplo).
"O MyPlate pode ser inútil", afirma Walter Willett, professor de
epidemiologia e nutrição da Escola de Saúde Pública de Harvard. Ele diz que a
falha do desenho é não especificar quais alimentos devem ser preferidos dentro
de cada grupo.
Desse jeito, diz o especialista, a pessoa pode ocupar a porção de proteína
com um hambúrguer e a de vegetais com batatas fritas.
No ícone de Harvard, a porção reservada aos vegetais exclui as batatas. A
parte dos grãos e cereais especifica que eles devem ser integrais.
O copo de leite é substituído por água e, ao lado do prato, há uma indicação
para o uso de óleos vegetais saudáveis, como o de canola.
"O tipo de gordura que as pessoas usam para cozinhar e temperar faz uma
diferença enorme", disse Willett em entrevista coletiva por teleconferência
ontem.
ADIANTA?
Para Daniela Jobst, nutricionista da Unifesp, a adoção dos ícones de prato
representa um avanço em relação à pirâmide, considerada de difícil compreensão.
Mas ela questiona o impacto que isso pode ter na população. "Será que as pessoas
vão se interessar por isso?" Para Willett, de Harvard, a resposta é sim. "Não dá
para esperar mudanças da noite para o dia, mas já vimos que existe um impacto".
Ele lembra que, nos EUA, nos anos 1990, houve uma forte campanha para reduzir
o consumo de gordura. Depois disso, foi observada a queda da ingestão desse
nutriente.
"O resultado não foi bom, porque as pessoas passaram a comer mais açúcar."
Mas, afirma ele, isso serve para demonstrar que a população está interessada em
comer melhor.
Jobst acredita que seria mais simples concentrar esforços na cor da comida.
"Quanto pior a alimentação, mais ela tende para o branco e o amarelo, a cor das
farinhas e dos pães. Quanto mais cor, vermelho, roxo, laranja, mais o prato tem
nutrientes, fitoquímicos [de vegetais] e antioxidantes."
GUIA BRASILEIRO
O Ministério da Saúde deve iniciar, ainda neste ano, a revisão do Guia
Alimentar Brasileiro. A ação faz parte do plano de combate a doenças crônicas
não transmissíveis.
Patrícia Jaime, coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do ministério,
afirma que o governo nunca adotou um símbolo gráfico, como a pirâmide, para
orientar as escolhas nutricionais da população.
Ela lembra que estudos com imagens adotadas em outros países (pirâmide,
prato, roda, caminho e mapa) indicaram que as pessoas têm dificuldade de
compreender os símbolos.
A coordenadora afirma que o ministério não menospreza a importância dos
ícones de alimentação saudável, mas diz que um símbolo como esse precisa ser
aceito culturalmente pela população.
"O ministério busca privilegiar a cultura alimentar local. O arroz com feijão
é defendido como padrão nacional, mas deve ser complementado com diferenças de
cada região, evitando padrões massificados", diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário