quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Dilma volta a pedir recursos

Paulo de Tarso Lyra
Correio Braziliense


Embora não fale em nova CPMF, presidente diz que o setor não vai melhorar apenas com gestão eficiente. Verba extra seria urgente


A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que a saúde precisa de mais gestão e mais recursos para ser de fato universal. Ela lembrou a dificuldade enfrentada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que passou dois anos tentando discutir um modelo parecido com o brasileiro. Mas acrescentou que não falará em tese sobre a criação de um novo imposto. "Sabe por que eu não discuto em tese? Eu quero ver esse imposto, que dinheiro, qual é a fonte de recurso, qual o impacto disso na economia", declarou ela, após visita à exposição Gestão de Compras Governamentais - A Experiência da Educação.



Pela primeira vez desde que o debate em torno do novo imposto foi retomado, a presidente disse que a Contribuição Social sobre a Saúde (CSS), incluída na proposta de regulamentação da Emenda 29, é insuficiente para suprir as demandas do setor. "Seria muito pouco - a proposta é que a CSS tenha uma alíquota de 0,001%. Esse 0,001 nós colocamos neste ano. Só nós aumentamos em R$ 10 bilhões o gasto na saúde, nós estamos fazendo nossa parte", completou Dilma. Questionada se a nova contribuição poderá ser criada este ano, Dilma foi direta: "Eu não sei, eu não controlo o Congresso".



Ela repetiu o que havia dito em entrevista ao programa Fantástico no último domingo: a extinta CPMF foi usada de forma errada, porque os recursos arrecadados foram utilizados em outras áreas, não na saúde. "Essa discussão tem que ser aberta, todo mundo tem de participar. E também tem de ter esse compromisso legal, não pode desviar dinheiro da saúde", defendeu.



A presidente lembrou que existem 40 milhões de pessoas que ascenderam à classe média prontas para cobrar mais qualidade na prestação dos serviços de saúde. "Antes, tínhamos a seguinte distinção: a classe média ficava com a saúde privada e o nosso povão ficava com a saúde pública." Ela elencou diversos exemplos dos problemas de gestão detectados na pasta. "Hoje, por exemplo, nós não temos todas as informações para saber quantas vezes o setor privado usa recursos do SUS e qual é o nível de reembolso. Nós não sabemos se uma pessoa faz mais de três tomografias numa mesma semana, temos problemas de falta de médicos", enumerou Dilma.



Mamógrafos



Dilma citou ainda o exemplo dos mamógrafos. "Nós temos 1,5 mil mamógrafos no SUS. Eles, teoricamente, seriam suficientes para atender as mulheres e as demandas. Mas temos mamógrafos quebrados, encaixotados, não usados e usados abaixo da necessidade." A presidente também mencionou a dificuldade para agendar uma consulta. "Quantas vezes a pessoa fica parada, esperando, e não é atendida? Quantas vezes uma criança que precisa de atendimento não consegue ser atendida? ", afirmou.



A Câmara dos Deputados marcou para a semana que vem a votação da regulamentação da Emenda 29, que define os percentuais a serem gastos pela União, estados e municípios com a saúde. Dilma já avisou aos líderes que o governo não moverá uma palha para propor novo imposto. Várias propostas tramitam na Câmara para garantir mais recursos para a pasta: parte dos recursos dos royalties do pré-sal; aumento da alíquota de bebidas e cigarros; taxação dos lucros encaminhados pelas multinacionais para o exterior; e, a mais polêmica de todas, a legalização dos bingos. Como adiantou o Correio, dificilmente os deputados conseguirão definir essa fonte, transferindo a responsabilidade do debate para o Senado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário