Fonte: ENSP, publicada em 23/11/2011
Tatiane Vargas
Para debater a formação em Saúde Pública e as perspectivas para o campo, a ENSP recebeu seus docentes e discentes e de outras instituições no 1° Encontro dos Pós-Graduandos da ENSP/Fiocruz, na segunda-feira (21/11). O evento discutiu, entre outros assuntos, a atual situação dos programas de pós-graduação da Escola e promoveu um debate entre os estudantes sobre o papel do profissional de saúde. O diretor da ENSP, Antônio Ivo de Carvalho, que participou da mesa de abertura, destacou que esse tipo atividade reúne todos os fatores para se tornar uma tradição na Escola. "A iniciativa é muito bem-vinda, e esperamos que ela se torne institucional", afirmou o diretor. Na ocasião, foi criado o Fórum dos Pós-Graduandos da ENSP, como um espaço transdisciplinar de integração, diálogo e ação permanente.
Após a solenidade de abertura, que contou ainda com a presença da vice-diretora de Pós-Graduação da ENSP, Maria Helena Mendonça, e do doutorando em Epidemiologia em Saúde Pública e membro da comissão organizadora do evento, David Soeiro, teve início a roda de debates O SUS para além do SUS: por uma outra concepção de educação para a saúde. A atividade, realizada no formato de dinâmica participativa, quando todos os participantes puderam se pronunciar, teve a participação do professor da ENSP Carlos Otávio Fiúza Moreira, da professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Lígia Bahia, do professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Túlio Franco e da ex-mestranda da ENSP Nidilaine Dias. A roda de debates foi mediada pela doutoranda em Saúde Pública da ENSP Juliana Kabad - também membro da comissão organizadora do 1° Encontro dos Pós-Graduandos da ENSP/Fiocruz.
O professor Carlos Otávio Fiúza Moreira falou sobre Experiência, aprendizagem e formação para a Saúde: algumas questões. Ele levantou duas importantes reflexões relacionadas a experiências educacionais com a seguinte intervenção: "De forma geral, os currículos dos cursos do campo da Saúde organizam as experiências educacionais tendo em vista a assimilação de conteúdos, com forte ênfase em aspectos cognitivos, sem muita atenção para os efeitos dessas experiências nas práticas profissionais futuras? Ou, de forma geral, os currículos dos cursos do campo da Saúde organizam as experiências educacionais tendo em vista seus efeitos possíveis na formação de disposições duráveis, ou seja, de uma matriz de práticas de cuidado, gestão e educação em saúde?"
O
professor apontou uma hipótese. Segundo ele, o problema central dos métodos de
ensino e aprendizagem nunca foi e nem é uma possível ausência de experiência,
mas sim o caráter ou a qualidade da experiência educacional que eles oferecem e
seus efeitos nas práticas profissionais. Em seguida, a professora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Lígia Bahia iniciou sua fala a
partir de questionamentos dos participantes da atividade. Para a professora, o
processo de privatização da Saúde tem a ver com o processo de privatização dos
programas de pós-graduação. De acordo com ela, no programa de pós-graduação em
que trabalha existe a ideia de que ele seja completamente privatizado.
Lígia
afirmou ainda que, atualmente, há uma expansão muito grande da Saúde Coletiva e
questionou as pesquisas realizadas pelos alunos de pós-graduação. Segundo ela,
"o problema não é se nós vamos ser mais ciência ou menos ciência. O problema é
que não estamos estudando temas relevantes para nossa sociedade". Em seguida, a
professora abordou a questão da fragmentação da Saúde Pública e destacou que
todos os estudantes têm o dever de ter conhecimento sobre cada uma das áreas.
Lígia citou ainda que alguns dizem que a ciência não é um indicador de verdade,
mas para ela é. "Nós somos instituições científicas, o que não quer dizer que a
Saúde Pública seja uma ciência básica. Na verdade, ela é uma ciência aplicada",
apontou a professora.
O
professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Túlio Franco destacou a
importância de promover esse tipo de discussão em ocasiões em que é possível
debater as muitas questões que desafiam o campo da Saúde Coletiva e ressaltou
ainda o esforço da ENSP em formar profissionais para o Sistema Único de Saúde
(SUS). Em sua fala, Túlio abordou temas relacionados à Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e afirmou que é necessário
formar o entendimento em relação à forma que se produz conhecimento. O professor
entrou também na questão da interdisciplinaridade. "A Saúde Coletiva nasce como
um campo interdisciplinar, por isso precisamos entender o campo das
possibilidades da Saúde Coletiva. Ser interdisciplinar torna a Saúde Coletiva
muito mais potente, muito mais rica", destacou.
"Para
que SUS estamos nos formando?", foi o primeiro questionamento da ex-mestranda da
ENSP Nidilaine Dias em sua apresentação. A ex-aluna trouxe várias questões para
reflexão dos docentes presentes no evento, entre elas: Qual é a contribuição da
produção dos estudantes para a melhoria do SUS? Qual é o papel dos estudantes na
qualidade de sanitaristas? Quais são as suas responsabilidades? De que modo seus
estudos podem contribuir para a redução das desigualdades em saúde no Brasil?
Para quem os estudantes produzem conhecimento? Para quem eles publicam? Após os
questionamentos, a discussão foi aberta novamente aos participantes, para que
eles pudessem refletir sobre as indagações da ex-mestranda.
Criação do Fórum de Pós-Graduandos da ENSP
Dando continuidade ao evento, na parte da tarde, as atividades estiveram relacionadas com a Assembleia Geral dos Pós-Graduandos da ENSP, que contou com a participação de discentes dos três programas da Escola: Saúde Pública, Epidemiologia em Saúde Pública e Saúde Pública e Meio Ambiente. Naquele momento foi debatida a situação atual dos programas de pós-graduação da ENSP, com relatos dos pontos positivos e negativos vivenciados pelos docentes.
Por
fim, teve início o debate sobre a criação oficial do Fórum dos
Pós-Graduandos da ENSP, aprovado pelo grupo de alunos presentes na
atividade. Ficou definido que o Fórum será um espaço transdisciplinar de
integração; diálogo e debate permanente; articulação e ação; discussão sobre
como está ocorrendo a formação, os processos decisórios e fortalecimento das
representações discentes na Escola e também participativo no âmbito da formação
e militância pela Saúde Pública. "A ideia é que seja um espaço para melhor
conhecermos, debatermos e divulgarmos as produções da ENSP, além de ter um papel
na mobilização dos estudantes para os debates na Escola", explicou David Soeiro,
participante do Fórum de Pós-Graduandos da ENSP.
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