Ah! Quanta espera, desde as frias madrugadas, pelo remédio para aliviar a dor! Este é teu povo, em longas filas nas calçadas, a mendigar pela saúde, meu Senhor!”
O trecho acima faz parte do hino da Campanha da Fraternidade deste ano, cujo mote central é a saúde pública.
É a segunda vez que a Igreja Católica elege o tema -a primeira foi em 1984.
“A saúde vai muito mal do Brasil”, afirma o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer. O cardeal também critica as OS (Organizações Sociais) em São Paulo.
“Na medida em que se terceiriza os serviços de saúde, vira comércio, eles acabam sendo submetidos às leis de mercado”, afirma.
O arcebispo de São Paulo também comentou a notícia do nascimento de uma criança com a finalidade de doar células-tronco para a irmã que sofre de uma doença hematológica. “Não podemos aplicar de maneira irrestrita todas as possibilidades do conhecimento científico.”
A seguir, trechos da entrevista exclusiva concedida à Folha na semana passada, no Mosteiro de São Bento.
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Folha – A saúde é pela segunda vez tema da Campanha da Fraternidade. Agora, há cânticos bem críticos em relação à saúde pública. A situação piorou?
Odilo Pedro Sherer – A primeira vez que abordamos o tema foi mais focado no doente. Agora, o olhar está voltado para o acesso aos serviços, para as políticas em saúde pública, os atendimentos médicos e hospitalares, a falta de acesso a medicamentos. A situação está muito séria na adequação do SUS. Os pobres, que não têm possibilidade de ter plano de saúde, dependem de um sistema de saúde deficitário, que está longe de atender os requisitos básicos. A saúde vai muito mal no Brasil.
Anteontem, o Ministério da Saúde divulgou um relatório de avaliação do SUS em que a nota média ficou em 5,4…
É, foi muito mal avaliado. Não basta que poucos tenham condições de ter acesso a ótimos hospitais. É uma questão de fraternidade, solidariedade, levantar a questão, reclamar, mostrar a situação real nos grotões do país, nas periferias das grandes cidades. E não é só isso. A saúde pública vive um processo de terceirização, de comercialização.
O sr. se refere às Organizações Sociais em São Paulo?
Sim. Na medida em que se terceiriza os serviços de saúde, vira comércio, eles acabam sendo submetidos às leis de mercado. Isso pode comprometer o atendimento dos pacientes. Saúde é um bem público, um direito básico, fundamental. Impostos são recolhidos para esse fim.
A Igreja não poderia ser mais atuante na promoção de saúde, fazendo campanhas de prevenção a diabetes, hipertensão durante as missas, por exemplo?
Já fazemos isso constantemente nas pastorais da saúde, da criança. Trabalhamos arduamente não só para atender os doentes mas também para promover saúde.
Recentemente, foi noticiado o nascimento de uma criança gerada com a finalidade de doar células-tronco para a irmã que sofre de uma doença hematológica. Como a Igreja vê isso?
Nem tudo que é possível em ciência é bom eticamente. Não podemos aplicar de maneira irrestrita todas as possibilidades do conhecimento científico. Não podemos produzir bebês com a finalidade “para”. O ser humano nunca pode ser usado como meio para atingir fins. Ele, por si só, já é o fim.
Mas mesmo que o objetivo tenha sido para salvar uma outra vida?
O ser humano agora pode ser um embrião, um feto, um bebê. Nessa fase posso fazer o que for do meu agrado para atingir meus objetivos. Mas depois ele se torna uma pessoa adulta. Como ele vai avaliar a minha ação? Eu fui usado, eu fui manipulado em função de, me usaram para. Está faltando dignidade para o ser humano, que é único.
Carta ao
Leitor
Folha de São
Paulo – 06/03/2012
Saúde
“Ao criticar a terceirização e a
comercialização da saúde pública no Brasil, o cardeal dom Odilo Pedro Scherer,
arcebispo de São Paulo, não se referia especificamente às Organizações
Sociais (OSs) que
atuam na cidade de São Paulo, mas à situação do atendimento à saúde no Brasil,
de maneira geral (“Terceirização submete saúde pública ao mercado”, “Entrevista
da 2ª”, ontem).
A
incapacidade do SUS de
atender às demandas da população obriga os cidadãos a recorrer a planos
privados. Esses planos, porém, por serem geralmente caros, estão fora do
alcance dos pobres, que acabam privados dos benefícios essenciais à sua saúde.
Mas são bem-vindas as parcerias do Estado com OSs idôneas para que haja um
atendimento melhor à saúde da população”.
Rafael Alberto,
secretário de comunicação da Arquidiocese de São Paulo (São Paulo, SP)
Letra: Roberto Lima de Souza
Música.: Júlio Cézar Marques Ricarte
1. Ah!
Quanta espera, desde as frias madrugadas,
Pelo
remédio para aliviar a dor!
Este é teu
povo, em longas filas nas calçadas,
A mendigar
pela saúde, meu Senhor!
Tu, que vieste pra que todos tenham
vida, (Jo 10,10)
Cura teu povo dessa dor em que se
encerra;
Que a fé nos salve e nos dê força
nessa lida, (Mc 5, 34)
E que a saúde se difunda sobre a
terra! (Cf Eclo 18,8)
2. Ah!
Quanta gente que, ao chegar aos hospitais,
Fica a
sofrer sem leito e sem medicamento!
Olha,
Senhor, a gente não suporta mais,
Filho de
Deus com esse indigno tratamento!
3. Ah! Não
é justo, meu Senhor, ver o teu povo
Em
sofrimento e privação quando há riqueza!
Com tua
força, nós veremos mundo novo, (Cf Ap 21,1-7)
Com mais
justiça, mais saúde, mais beleza!
4. Ah! Na
saúde já é quase escuridão,
Fica
conosco nessa noite, meu Senhor, (Cf Lc 24,29)
Tu que
enxergaste, do teu povo, a aflição
E que
desceste pra curar a sua dor. (Cf Ex. 3,7-8)
5. Ah! Que
alegria ver quem cuida dessa gente
Com a
compaixão daquele bom samaritano. ( Lc. 10,25-37)
Que se
converta esse trabalho na semente
De um
tratamento para todos mais humano!
6. Ah! Meu
Senhor, a dor do irmão é a tua cruz!
Sê nossa
força, nossa luz e salvação! (Cf. Sl. 27,1)
Queremos
ser aquele toque, meu Jesus, (Cf. Mc. 5,20-34)
Que traz
saúde pro doente, nosso irmão!
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