sexta-feira, 29 de julho de 2011

Cresce venda de software para gestão de hospitais

Cenário: Fabricantes estimam que mercado crescerá 6 vezes até 2016

Moacir Drska e Cibelle Bouças
Valor Econômico

O segmento de software para gestão hospitalar existe no Brasil há dez anos, mas só nos últimos dois anos ganhou impulso. Atualmente, o setor responde por 2% da indústria brasileira de software, movimentando por ano R$ 500 milhões, segundo fabricantes ouvidos pelo Valor. As companhias estimam que esse segmento crescerá seis vezes nos próximos cinco anos, com demanda aquecida nos setores privado e público.
A americana InterSystems prevê um aumento de 50% na receita gerada em sua operação brasileira. A projeção é de que essa divisão movimente US$ 30 milhões neste ano, diz Carlos Eduardo Kuhl Nogueira, diretor-geral da companhia para a América Latina.
O principal projeto da empresa é o Sistema Integrado de Saúde (SIS), implantado pelo governo do Distrito Federal. O SIS compreende 10,2 mil usuários do corpo clínico de 41 instituições, entre hospitais, unidades de pronto atendimento, centros de saúde e laboratórios. No total, a InterSystems desenvolve três grandes projetos públicos no país e já cadastrou o prontuário eletrônico de 2,5 milhões de pacientes. A meta da companhia é expandir esse serviço para 10 milhões de pessoas até 2012.
Paulo Magnus, presidente da companhia brasileira MV Sistemas, também prevê uma expansão significativa do mercado, com aumento da demanda no setor público - que começou a ficar forte neste ano - e crescimento das vendas para o setor privado. Sediada no Rio Grande do Sul, a companhia atua exclusivamente com sistemas de gestão em saúde e tem hoje sistemas implantados em 500 hospitais.
Nos últimos três anos, a MV investiu em duas novas unidades de desenvolvimento de software, instaladas em Fortaleza e Recife, que se integram à unidade de Passo Fundo (RS). A expansão, diz Magnus, tem por objetivo acompanhar o cenário favorável e ampliar a receita de R$ 80 milhões registrada em 2010. Esperamos manter em 2011 a média de crescimento de 20% observada nos últimos anos, afirma.
Outra companhia que vem reforçando os investimentos no setor é a Totvs. Em dezembro, a empresa concluiu a aquisição da Gens Tecnologia e Informática, especializada em software de gestão para a área de saúde. Com uma base de 36,5 mil clientes, entre hospitais, operadoras de planos de saúde, clínicas e laboratórios, o segmento é uma das quatro principais áreas de negócios da Totvs. Hoje cerca de 20% do nosso orçamento total de desenvolvimento de software é destinado aos sistemas de saúde, diz Gilsinei Hansen, diretor de software e segmentos da empresa.
A portuguesa Alert, que chegou ao país em 2007, também diz se beneficiar da demanda no setor público. A empresa tem contratos com 35 hospitais, que atendem 12 mil pessoas por dia. Neste mês, fechou contrato com 20 hospitais da rede pública do Estado de Minas Gerais e com a Beneficência Portuguesa, de São Paulo. As vendas para o Brasil devem crescer 60% neste ano, afirma Luiz Brescia, diretor-geral da Alert no país. A operação representa 30% da receita global da companhia. A projeção da Alert é elevar seu faturamento global de EUR 47 milhões para EUR 60 milhões neste ano.
Dona da Wheb Sistemas, que possui 350 clientes, a Philips estuda adquirir outras empresas de software no país para complementar seu portfólio, afirma Juan Hoyos, diretor da área de cuidados ao paciente e informática.
Os investimentos feitos por essas companhias levam em consideração a demanda atual e as expectativas de avanço no grau de informatização das instituições de saúde. Existem no país 6,3 mil hospitais públicos e privados, mas apenas 15% possuem sistemas informatizados, o que limita um avanço mais rápido das vendas de softwares de gestão, afirma Ciro Menezes, diretor comercial da HelpLink. O mercado atual é pequeno, mas há um grande potencial de expansão, afirma.
A HelpLink investiu R$ 700 mil no desenvolvimento de um software, lançado há um ano. Atualmente, seis unidades de saúde usam o programa. Como estratégia de crescimento, a HelpLink pretende participar neste ano de sete licitações de prefeituras e governos estaduais. A maioria das licitações são no Estado de São Paulo. Menezes observa que já foram divulgados em torno de 50 editais neste ano.
A MTM Tecnologia também passou a competir no segmento há dois anos, com um aplicativo de prontuário eletrônico para smartphones. O aplicativo já foi adotado pela equipe médica do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), em São Paulo; pelo Hospital Espanhol, em Salvador, administrado pela Real Sociedade Espanhola de Beneficência; e exportado para 1,2 mil clínicas dos Estados Unidos e da Inglaterra por meio da representante Care Stream Health. Neste ano, pelo menos mais seis hospitais no Brasil vão instalar o software, diz Gustavo Perez, presidente da companhia.

Contexto
Os softwares de gestão hospitalar consistem em um conjunto de programas que organizam toda a rotina de uma unidade de saúde. A parcela mais conhecida desses softwares é a de prontuários eletrônicos. Quando um paciente chega a um hospital, por exemplo, as informações são registradas no prontuário eletrônico e ele recebe uma classificação conforme a urgência do caso. Esse critério é usado para priorizar atendimentos. Os dados são encaminhados para as áreas de atendimento, que ficam conectadas em rede. Dados de procedimentos cirúrgicos e informações sobre a medicação usada são incluídos no histórico do paciente. Isso ajuda a equipe médica a avaliar a evolução do tratamento. No projeto de Sistema Integrado de Saúde do Distrito Federal, o controle de estoque de medicamentos e outros itens provocou redução de 70% nos gastos com materiais. A gestão mais inteligente fez dobrar a média de ocupação de leitos de 2,3 pacientes ao mês para 4,6 pacientes por mês.
A substituição do prontuário em papel pela versão eletrônica também proporcionou economia anual de R$ 5 milhões. As instituições privadas adotam o software para reduzir o tempo de atendimento e os custos. Já os hospitais públicos buscam melhorar o controle financeiro, tendo em vista que dependem de repasses do Sistema Único de Saúde (SUS) e de outras verbas de governo. Quando os procedimentos não são registrados de forma correta - por exemplo, um kit de sutura deixa de ser registrado - os hospitais públicos perdem faturamento.

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